quarta-feira, 8 de abril de 2009

Cronologia

As horas têm números? E os dias? E os meses? E os anos?...
Não, a vida não está limitada ao tempo, é o próprio tempo. Começa com o estampido de um grito novo que ecoa numa mesa de parto. Sai de um útero. Dores, lágrimas, gritos, sonhos e alegrias. Retumbante como o alarido ensurdecedor de um tiro, começa nem estonteamento da dúvida. A única certeza: a vida começou.
Na cronologia da história temporal, mediada por frações, ela continua. Mas, na vida não há dias, nem noites, nem meses, nem anos. O tempo, a vida, a história corre num exaustivo começo e fim, pois o meio é o todo. O todo é um todo cíclico da vida, das cronologias fracionárias, fracionadas.
Ah! O tempo, a vida, a história, efêmeras substantivações das agonias existenciais de quem passa pelos caminhos insondáveis de um eterno amanhecer. A luz é dia, é tempo, é vida.
Mas o tempo, a vida, a história é cronologia passageira, passageiras de uma intermitente transição entre luz e trevas. A vida é luz, e também é noite.
Assim, medir, mensurar, fracionar é prender-se num emaranhado de coisas meramente finitas. A vida não tem fim, em sua essência, não tem começo, muito menos meio, é ato contínuo. Prendê-la a frações de convenções, substancialmente abstratas, é ofuscar o brilho da luz ou das trevas, num molde de cronologias averbais, numa bolha temporal, enfadonha, monótona, sem cores, opaca, medonha.
A cronologia é pois, o término, o fim, a prisão, o vácuo, o nada. É o abstrato enfadonho dos que passam na solidão de um caminho sem flores, sem orvalhos, sem luas, sem sol, sem brisa, sem a brisa, sem a graça da simplicidade do existir.
A cronologia, assim, é o nada, a vida é o todo.
Antonio José da Silva
Assessor de Currículo de L. Portuguesa
Gestar II

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